• Menino vacinado com a caderneta de vacinação na mão

Conheça estratégias de vacinação no Brasil que contribuíram para o fim da emergência internacional referente à COVID-19

Brasília, 1 de agosto de 2023 – A vacinação em massa foi a principal medida para salvar vidas e reduzir o número de hospitalizações por COVID-19 no mundo, contribuindo diretamente para o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à doença, que ocorreu de janeiro de 2020 a maio deste ano.

Ao longo de todo o período, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) trabalhou com os países e territórios das Américas em ações para mitigar os efeitos da COVID-19, incluindo a adoção de estratégias diversificadas para alcançar os não vacinados e proteger, assim, cada vez mais pessoas.

Confira a seguir algumas das ações realizadas pelas autoridades de saúde do Brasil por meio dessa parceria e que foram fortalecidas pela OPAS com recursos mobilizados de doações dos governos do Canadá e dos Estados Unidos.

Vacinação intensificada nas fronteiras e estados do norte do Brasil

 

Foto: Michell Mello


“NACIMOS DE MUCHAS MADRES, PERO AQUÍ SOLO HAY HERMANOS”. Assim, em letras maiúsculas pretas sobre fundo branco, um muro “grita” na cidade de Tabatinga, no extremo oeste do estado do Amazonas, no Brasil. “NASCEMOS DE MUITAS MÃES, MAS AQUI SÓ TEMOS IRMÃOS”, diz outra parede que está ao lado. O jogo de palavras em forma de grafite entre espanhol e português pode ser visto na Avenida da Amizade, a principal rua que liga o lado brasileiro à cidade de Letícia, do lado colombiano.

Há ainda uma terceira cidade – Santa Rosa do Javari, no Peru – conectada ao Brasil e Colômbia pelo rio, o que faz dessa tríplice fronteira um ambiente multicultural onde as pessoas transitam, trabalham, se educam e interagem em português, espanhol ou “portunhol”.

Foi nesse cenário que o Ministério da Saúde do Brasil lançou, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Plano de Ação “Estratégia de Vacinação nas Fronteiras”. A iniciativa busca, desde maio de 2022, ampliar a cobertura vacinal em 33 cidades gêmeas brasileiras (cortadas pela linha de fronteira com outros países) em 10 estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina.

Foto: Michell Mello


Por meio desse plano, também foram disponibilizadas para habitantes dos outros noves países que fazem fronteira com o Brasil vacinas eficazes e seguras, gerando proteção contra doenças como sarampo, rubéola, poliomielite (também conhecida como paralisia infantil), febre amarela, influenza (gripe) e COVID-19.

Outra área de trabalho conjunto foi a reestruturação do Laboratório de Fronteira (LAFRON), localizado na cidade de Tabatinga, e o apoio ao município na análise de dados de imunização e fornecimento de testes rápidos e equipamentos.

Em articulação com o Ministério da Saúde, a OPAS apoiou ainda os governos estaduais, intensificando a vacinação extramuros – ou seja, fora das unidades de vacinação – nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, com fortalecimento também da vigilância epidemiológica e dos sistemas de informação e comunicação, bem como da documentação e monitoramento das atividades.

Além disso, a OPAS apoiou a contratação de profissionais para digitação de dados, de modo a facilitar o acompanhamento das coberturas vacinais, a mobilização de transporte e a aquisição de combustível e outros insumos necessários para alcançar a população não vacinada por via aérea, terrestre e fluvial.

Participação comunitária e vacinação de pessoas acamadas no Distrito Federal

 

Foto: Karina Zambrana/OPAS/OMS


“No começo, eu não queria me vacinar. Por falta de informação, por medo mesmo”, revela David Mendes, morador da Cidade Estrutural, área de baixa renda no Distrito Federal, e dono de um serviço de carro de som que foi contratado por meio de um projeto da OPAS, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília e Secretaria de Saúde do Distrito Federal, para motivar a comunidade a se proteger por meio da vacinação.

O trabalho fez o próprio David mudar de opinião sobre os imunizantes. “Eu estava divulgando e convocando os vizinhos para se vacinar. E, de tanto ouvir as mensagens que eu mesmo reproduzia, eu me encorajei a fazer algo tão bom para a saúde como é se vacinar”, relata.

No projeto, chamado “Imuniza Estrutural”, foram capacitadas 926 lideranças comunitárias para realizar ações de educação, principalmente relacionadas à atualização das cadernetas de vacinação, como parte do esforço para ampliar as coberturas vacinais em todo o país.

Foto: Karina Zambrana/OPAS/OMS


Uma delas foi Keyla Costa Silva, educadora social e professora de capoeira, que emprestou sua voz ao carro de som. “Ver uma pessoa da comunidade como eu, chamando os vizinhos pelo nome, fez com que eles se sentissem importantes e confiantes para se vacinar”, destaca. “Houve um diálogo direto e corpo a corpo com as pessoas. Então, conseguimos mobilizar muita gente para a imunização, não só para a COVID-19, mas também para gripe e sarampo”, completa Keyla Costa Silva.

Além dela, foram contratados pontos focais, enfermeiros, trabalhadores e assistentes sociais. Todos eles residentes da Cidade Estrutural, como Mariza Batista Araújo, que prefere ser chamada de “vizinha” em vez de “líder ou assistente social” em sua comunidade. “Trabalho há mais de 25 anos em projetos sociais que trazem benefícios à nossa comunidade. Por isso, eu me identifico como uma vizinha que trabalha para o bairro”, explica.

Ela destaca que, no início do projeto, a mobilização e a comunicação foram desafiadoras. “As pessoas tinham muito medo de se vacinar e desconhecimento sobre assuntos científicos e de saúde. Tivemos que convencê-los a superar essa barreira”, afirma.

Uma das pessoas que entendeu os benefícios da vacinação após conversar com as lideranças – ou “vizinhos” – do projeto foi Elitânia Santos. “Eu ainda não tinha sido vacinada, até que minha tia, que mora ao lado, me disse que estavam vacinando. É importante fazer isso para prevenir doenças”, diz.

Foto: Karina Zambrana/OPAS/OMS


Entre as ações realizadas, esteve a vacinação no Centro Olímpico Estrutural – um grande espaço público próximo à comunidade ​– e uma feira de saúde com foco na prevenção da dengue, planejamento familiar e higiene das mãos, água e alimentos. Também foram organizados treinamentos, rodas de conversa e atividades de arte de rua, como grafite e competição de rap.

Outro projeto, realizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal e a OPAS, foi a vacinação contra COVID-19 de pessoas acamadas, como Esthefanny Ketelley, uma criança de 11 anos portadora de uma síndrome rara conhecida como Atrofia Muscular Espinhal (AME), dependente de ventilação mecânica e bomba de fusão para se alimentar.
 

Foto: Breno Esaki/Agencia Saude DF


As pessoas que residem na área de abrangência de cada Unidade Básica de Saúde – como são chamados no Brasil os estabelecimentos de atenção primária – são monitoradas pelos agentes comunitários de saúde. Qualquer indivíduo que não possa se deslocar recebe a visita dos vacinadores, que aproveitam para tirar dúvidas e dar o imunizante também a outras pessoas do domicílio, conforme o esquema vacinal.
 

Foto: Breno Esaki/Agencia Saude DF


Romper barreiras geográficas e chegar na casa das pessoas: o legado do “Vacina Mais Pernambuco”
 

Foto: Miva Filho/Secretaria Estado Pernambuco


“Uma casa isolada, que só se alcançava atravessando um tronco de coqueiro que funcionava como ponte para que não caíssemos na água. Essa família não só não havia sido vacinada, como não sabia que a vacina para prevenir a [forma grave da] COVID-19 já existia no Brasil há quase um ano”. Essa história – contada pela enfermeira Letícia Vila Nova, supervisora ​​das equipes de campo da área de ܲԾçã da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco – ilustra o desafiador trabalho diário para alcançar os não vacinados.

A enfermeira faz parte do programa “Vacina Mais Pernambuco”, uma parceria entre a OPAS e o governo do Estado, para acelerar a vacinação contra a COVID-19. Entre os meses de dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, equipes itinerantes percorreram Pernambuco em veículos de tração 4x4, motocicletas, barcos, a pé e a cavalo, facilitando a chegada da vacina nas áreas de mais difícil acesso.

Foto: Miva Filho/Secretaria Estado Pernambuco


Marcelo Andrade, secretário adjunto de Saúde de Itamaracá, conta que o município pernambucano tinha índices muito baixos de cobertura antes da parceria. “Percebemos que havia pessoas em isolamento extremo e, para elas, era difícil chegar aos postos de saúde. Não bastava ter os imunizantes, era preciso ir atrás de cada cidadão”, ressalta.

Foto: Miva Filho/Secretaria Estado Pernambuco


Segundo ele, a situação melhorou com as ações do programa de busca ativa de pessoas não imunizadas, vacinação casa a casa e fortalecimento da notificação de dados de cobertura vacinal. “Composto por recursos materiais e humanos, conseguimos levantar os registros de imunização. Embora houvesse pessoas medrosas ou desinformadas, não eram em sua maioria antivacinas, realmente não tinham acesso ao imunizante”, enfatiza.

De acordo com a Superintendência de Imunizações do Estado de Pernambuco, no período de três meses de duração do programa, as equipes itinerantes administraram um total de 23.217 doses, sendo 3.654 a primeira; 5.002 a segunda e 14.559 como dose de reforço. Isso levou ao aumento da cobertura do esquema completo de vacinação nos 15 municípios pernambucanos visitados e atingiu mais de 30 mil pessoas.

“Vimos muitos idosos chorarem ao receber a vacina. Idosos que deveriam ter sido vacinados muitos meses antes”, destaca Ana Catarina Melo, superintendente de Imunizações da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, acrescentando que essas pessoas foram alcançadas graças ao programa.

Foto: Miva Filho/Secretaria Estado Pernambuco

Uso de evidências para enfrentar a COVID-19
 

O enfrentamento à COVID-19 reforçou a importância da tomada de decisões de saúde pública com base em evidências científicas. No Brasil, foram organizadas câmaras técnicas de especialistas com o objetivo de fornecer assessoramento de qualidade ao Ministério da Saúde do país.

Esses grupos foram compostos por sociedades científicas e pela OPAS para analisar as mais recentes descobertas sobre o SARS-CoV-2, coronavírus causador da COVID-19, e as recém-criadas vacinas contra essa doença.


Outras estratégias

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